O tempo corre, é um maratonista de
fundo que galga vidas com a rapidez de relâmpagos em noites de
trovoada, corre e não o conseguimos alcançar nem parar como nos
filmes ou nas fotografias que imortalizam momentos únicos e
irrepetíveis.
Creio que ao fim de séculos ainda não
nos capacitámos deveras da finitude da nossa condição humana, da
rápida transformação que sofremos desde o dia do nascimento até
ao último suspiro que nos entrega à dama de negro, à morte
intemporal e infinita, sim porque apenas a morte é infinita e não
corre, dorme na sua plena condição de "para sempre"; há gente,
bastante gente, que acredita que não seja assim infinito, que há "vida" para além da morte e que nos estão destinadas várias
passagens por este planeta, por este mundo ao sabor de tempo
ilimitado mas eu não consigo crer em tal visão mágica, mais
reconfortante até, talvez.
Confesso-vos que gostava de acreditar
numa infinidade de vidas que nos estão destinadas ao longo do tempo,
dos tempos que vão correndo e deixando marcas no corpo para depois
se regenerar e de novo nascermos, como num ciclo gigante de vidas e
construções de memórias, de momentos e de estórias; gostava de
ter uma fé inabalável e acreditar que somos vários ao longo de
séculos e não um só ao longo de algum tempo concedido. Mas não,
não tenho e cada dia menos vou crendo em destino ou reencarnação
ou outra qualquer explicação e por isso vejo o tempo galgando à
minha frente e vejo o espelho mostrando mais rugas, mais cansaço,
mais traços da passagem rápida dos anos que já vivi, sabendo que
não se volta atrás e que o tempo não abranda, não ameniza, não
retira passado e não se padece com a nossa vontade ou com caprichos
de quem o tenta contornar ou trespassar.
O tempo corre, é ágil e nada o detém
nem mesmo a fé dos que julgam tê-lo para todo o sempre; e entre
tantas limitações o que fazemos para aproveitar cada minuto?
Parece-me que cada dia mais nos
destruímos, mais confundimos as horas e esquecemos o quão limitados
estamos para aproveitar tudo o que cada vida que nos coube nos
oferece, andamos cegos, surdos e mudos sem entendermos que o único
milagre a que temos direito é o de nascer e só esse deveria chegar
para que nossos cérebros se preocupassem em correr ao lado do tempo,
fazer parceria com a natureza e acampar o coração num destino pleno
de vivências, de risos, de paz, de amores e descobertas brilhantes.
Toldamos a mente com pressas diárias, com sofrimentos
desnecessários, com guerras inúteis, com discussões fora de tom e
pouco aprendemos com os avisos que a vida vai dando, com os empurrões
que o tempo vai soprando.
O ser humano tem capacidades em si que
transcendem a de outros animais mas parece ter vindo a diminuí-las,
a esquecer o que de magnânimo pode deixar como herança aos seus, a
preferir as acções negativas e a destituir-se de responsabilidade
perante o tempo que gasta, que rouba, que encurta. Os nossos melhores
aliados têm sido menosprezados em detrimento de valores monetários,
belicistas, desumanos, destrutivos onde o ser humano se enreda e se
danifica diariamente sem noção do quanto finito é, do quanto
vulnerável está perante as adversidades, doenças, calamidades,
acidentes, acasos negativos, infortúnios.
Talvez agora estejam a pensar que
escrevo estas linhas com pessimismo e sobre um assunto negativista
mas não, escrevo estas linhas com o pensamento esperançoso de que
comecemos a ouvir a nossa voz interior, a cuidar do nosso corpo como
cuidamos da casa, do automóvel, dos outros, a dar importância aos
detalhes e a minimizar o tempo gasto com assuntos inférteis e
debates infrutíferos. É óbvio que a perfeição não existe, que
os erros acontecem, que somos humanamente bipolares porque andamos
equilibrados entre a mente e o coração e muitas vezes não
conseguimos o equilíbrio saudável que almejamos mas também é um
facto inegável que nos temos vindo a perder, que temos optado pelas
soluções mais fáceis, que temos abdicado de sonhos realistas e não
temos sabido interpretar os avisos constantes que o planeta nos faz
nem ouvido com clareza os sussurros que nosso corpo nos transmite a
cada acordar; num instante estamos vivos e num mesmo instante
morremos, sem volta atrás porque não vivemos numa tela de cinema,
sem tempo para questionar: fui feliz?
O tempo anda, é um veloz corredor de
distâncias que atravessa dias e anos com a urgência de um oásis em
pleno deserto, anda em passos apressados que não pudemos imitar e só
nos resta colocá-lo lado a lado e com ele galgar a vida em passos
satisfeitos por caminhos únicos sem perder de vista a essência do
amor, do equilíbrio, da paz, da sabedoria e mantendo o foco na
construção de flashes memoráveis, inesquecíveis, intensos e
perpetuados nas gerações vindouras.
Eu por mim vou falar ao tempo, correr
com ele e redescobrir-me ao espelho com a convicção de que
desperdiçar o milagre da vida é dar à morte alegrias diárias…e
eu da morte quero distância, a distância que me esteja ainda
concedida para sorrir, ouvir, observar, reagir, amar, construir,
viver!!!
Aliem-se ao tempo, corram com ele e
sejam mais felizes.
por Nádya Prazeres
Gostei muito de ler esta reflexão, confesso que por vezes tenho o mesmo pensamento..
ResponderEliminarbeijinhos
é difícil lidarmos sempre com esta ideia de que este é o nosso tempo e pronto... tudo acaba.
EliminarBeijinhos
" Confesso-vos que gostava de acreditar numa infinidade de vidas que nos estão destinadas ao longo do tempo, dos tempos que vão correndo e deixando marcas no corpo para depois se regenerar e de novo nascermos, como num ciclo gigante de vidas e construções de memórias, de momentos e de estórias; gostava de ter uma fé inabalável e acreditar que somos vários ao longo de séculos e não um só ao longo de algum tempo concedido. Mas não, não tenho e cada dia menos vou crendo em destino ou reencarnação ou outra qualquer explicação e por isso vejo o tempo galgando à minha frente e vejo o espelho mostrando mais rugas, mais cansaço, mais traços da passagem rápida dos anos que já vivi, sabendo que não se volta atrás e que o tempo não abranda, não ameniza, não retira passado e não se padece com a nossa vontade ou com caprichos de quem o tenta contornar ou trespassar."
ResponderEliminarDurante muitos anos vivi com esta crença, chegando a pontos de só esperar pela "próxima vida, pela próxima mudança...
Agora? Estou numa fase de aprender a viver a vida que construí :)
Beijinho,
Quando chegamos a essa fase... é que a vida começa verdadeiramente... somos nós que construimos a nossa vida e é com isso que temos de aprender a viver e ser felizes :)
EliminarBeijinhos
Dou por mim a pensar muitas vezes assim... caramba, o tempo corre mesmo! tao depressa estou a dar o pequeno almoco ao meu meu peqenote como estou a vestir-lhe o pijama para voltar a adormecer... Incrivel!
ResponderEliminarBjinhosss
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