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27.4.17

ritmo zero [imperfeições alheias]

Há dias que nos levam a questionar por onde caminha a humanidade, por que estradas sinuosas continuam os seres humanos a trilhar futuros cada vez mais sombrios, desgastados e sem final feliz à vista, o que deixaremos às gerações vindouras que apenas vão conhecendo o lado mais sombrio do ser humano...

 Enquanto navegava pela internet, num dos sites de notícias online que sigo, deparei-me com uma história que me deixou ainda mais perplexa ao entender a extensão da crueldade humana para com seus semelhantes quando estes se encontram indefesos; tratava-se de uma reflexão sobre a performance artística "Rhythm 0", ousada e complexa, talvez até polémica, ocorrida em 1974 no estúdio pessoal da artista plástica e performer Marina Abramovic onde a mesma se propôs a expôr o seu corpo, vestido, durante seis horas para que os espectadores pudessem interagir consoante suas vontades e não tendo ela qualquer acção de resposta ou defesa; nesta performance arriscada existia uma mesa com 72 objectos dos mais agressivos (lâminas, facas, cordas, algemas, uma pistola carregada...) aos mais inofensivos (penas, flores, escova de cabelo...) e que poderiam ser utilizados pelo público a seu bel prazer sem que a artista se defendesse ou evitasse.

 Seria de esperar para quem, como eu, acredita na bondade interna do ser humano que a performance tivesse decorrido com quase nenhuma má intenção e todos os presentes tivessem entendido o motivo por detrás de tão perigosa decisão: ficar à mercê de desconhecidos como sendo um objecto inanimado ou um corpo sem protecção senão a dos mesmos interagentes; mas de facto nada de ternura, de compreensão ou pacificidade aconteceu durante as seis horas levadas até ao fim por Abramovic que foi sujeita a cortes no pescoço e braços, despida, apalpada, acariciada sexualmente, agredida com uma coroa de espinhos na cabeça, ameaçada com a arma carregada, humilhada...conseguindo mesmo assim não interromper a performance, não se defender nem dizer uma palavra contra os que se serviram do seu corpo para exorcizar sabe-se lá que demónios ou frustrações pessoais. No fim da performance e após cuidados médicos, a artista enfrentou o público com lágrimas e palavras de mágoa por perceber na pele até onde pode ir a crueldade dos seres humanos quando em multidão se deparam com alguém solitário, indefeso...

 Podem questionar o método desta performance, achar que a artista se expôs deliberadamente e por isso se sujeitou ao que cada um tem de pior em si e muitos dirão até que teve aquilo que merecia porque só uma "doida" se deixa vandalizar sem qualquer defesa ou reacção; mas o que para mim se deve retirar deste acontecimento já com 4 décadas é que se fosse hoje as consequências teriam porventura sido muito piores e não duraria seis horas uma mulher frágil e indefesa no meio de pessoas cada dia mais violentas, frustradas, agressivas, insensíveis e covardes até.
 Será o Homem cruel por natureza? Teremos todos dentro de nós uma latente crueldade apenas à espera da oportunidade certa de se revelar, poderemos todos um dia em nossas vidas descambar para actos de violência gratuita? Ou teremos nós a capacidade de escolher entre o bem e o mal, de discernir o correcto e de aniquilar dentro de nós as vontades mais primárias e animais?

Estas questões trazem-me à memória notícias recentes de casos idênticos que se tornam ainda mais graves por se tornarem em espectáculos de bullying, de violência gratuita, filmados por um qualquer telemóvel anónimo sem que se trate de uma performance isolada e vigiada; enquanto que no caso de Abramovic, tendo contornos tristes de percepções erradas sobre o que é ser humano e repeitador para com os demais, se criou uma atmosfera possivelmente potenciadora de reacções mais ou menos sádicas (pese a culpa de cada um dos espectadores que ultrapassou o limite da liberdade alheia), nos dias de hoje cada ataque aos mais enfraquecidos é feito em plena praça pública onde qualquer um de nós se pode ver de repente agredido, violentado, agrilhoado, desrespeitado, indefeso perante a força dos que agem em bando reforçados pela negligência de forças de ordem ou políticas estanque à mediocridade da mais vil forma de ser humano: a cobardia do que sózinho é nada e em conjunto se torna tudo!

por Nádya Prazeres 
 

1 comentário:

  1. Por mais que viva acho que nunca vou conseguir entender porque e que seres humanos continuam a preferir o lado mau ao bom... Em criancas tudo bem que ainda nao sabem destinguir, agora em adulto?... Triste realidade :(
    Parabens a Nadya por mais um excelente texto!
    Bjinhosss as duas*
    https://matildeferreira.co.uk/

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