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21.10.16

Querida C.

english version soon

que susto nos pregaste quando te arrancaram dos meus braços para te enfiarem numa vitrina praticamente fechada. Que dor senti ao ver os tubos a entrar-te pelo nariz, pelo teu pequeno e delicado nariz. Que desanimo nas tuas bochechas rosadas mal tratadas por talas e fitas adesivas. Tudo tão pequeno, tão cruel, tão fora do senso comum.
Passar a noite sem ti foi como remar num mar tempestuoso onde o cansaço era enorme mas não podia largar os remos. Não queria largá-los com medo de os perder, de me perder de ti, da tua dor que queria que fosse minha.
Três dias de incertezas angustiantes. Três dias que pareceram uma eternidade.

Nasceste na sexta, nesse mesmo dia o meu coração fechou-se, a garganta deu um nó e o momento de alegria que me aqueceu a alma ao teu chorar esfumou-se num vazio incerto do que estava por vir. Foi ao terceiro dia que voltei a respirar, que se soltou o nó, que o meu coração bateu acelerado com a noticia de te trazer para casa. Faz hoje 3 anos que te peguei no colo (novamente) para não mais largar, que a vida voltou a sorrir depois de, por momentos, me retirarem o chão. Olhando para trás fico feliz por ter sido apenas um susto. Olhando-te hoje custa-me a acreditar que um dia estiveste ali, tão vulnerável.

Três anos depois e ris com a boca toda, abraças num abraço gigante e forte, beijas com um carinho adocicado, fazes as tuas birras em modo teatral e olhas com timidez quem não conheces, uma timidez tão falsa quanto efémera. És a traquina cá de casa (pelo menos por enquanto) mas também és a mais certeira, aquela que não pode ver uma migalha no chão, um objeto fora do lugar, a menos que tenha sido obra tua.

És um poço de energia que recarregas com cinco minutos de sossego, dizes as palavras certas na hora certa, sabes o que queres e não te falta determinação, independente nas brincadeiras e defensora dos teus. Cresceste depressa, depressa demais, no meu coração ocupas um espaço enorme desde a dita sexta-feira.

Com muito amor,
a tua mãe

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