Por vezes sinto-me a viver numa espécie de mundos paralelos, como na antiga série The Twilight Zone que me preenchia as tardes de adolescente nos anos 90, onde pessoas coabitam com ‘zombies’ e tudo se mistura numa estranha relação entre gerações e descendências.
É realmente curioso
observar como diariamente nos cruzamos com vários tipos de
espécimes, nos deparamos com vários ambientes e como a génese do
ser humano se tem vindo a degradar no último milénio.
A sensibilidade está
em vias de extinção, bem como a empatia e o amor pelo próximo ou
até mesmo por si próprio; a generalidade das pessoas não comunica,
não interage com propósito de conhecer melhor o semelhante à sua
volta, não se afecta pela dor alheia e muito menos pára para olhar
ao redor, entendendo que tudo tem impacto neles mesmos e não apenas
nos mais desfavorecidos.
No emprego já não
lidamos com gente mas com feitios, caras fechadas ou dedos apontados,
e parecemos viver numa roda de vaidades e críticas onde a minoria
dos simpáticos e prestáveis se torna ainda mais rara, quase sendo
engolida pelos que os veem como afectados.
No seio familiar também
não nos livramos de cada vez mais tempestades onde tentamos manter
um barco no qual se rema para vários lados, cada qual tentando puxar
a si os louros de atitudes prestadas ou acusando os demais pelas suas
frustrações e incompetências; os filhos parecem desrespeitar os
pais como se estes fossem só mais uns peões de um qualquer jogo de
computador e entre eles também não existe muita proximidade nem
diálogo afectuoso.
É óbvio, parece-me,
que cada um de nós é responsável por escolhas, caminhos, palavras
ditas, pensamentos praticados, atitudes diárias…
Mas se por um lado nada
nos obriga a explicações por quaisquer acto ou decisão tomados
também por outro não nos podemos alhear de que cada um desses actos
tem influência no decorrer dos dias e impacto em quem é directa ou
indirectamente receptor de tudo o que dizemos, fazemos, partilhamos.
As redes sociais têm
sido talvez das maiores responsáveis, mesmo que indirectamente pois
nós as criámos, por este alheamento socio-pessoal que atrai milhões
de pessoas interessadas nos seus umbigos, nos seus mundos fantasiados
a bem de um qualquer poder económico ou religioso ou simples
narcisismo. E assim cada dia me revejo menos no que é imposto pelas
sociedades como regra, fatalidade ou bem maior, e procuro minorar
tais impactos nefastos, em benefício de uma vida talvez mais
solitária mas bem mais digna e reconfortante na companhia dos que
escolho e me escolhem em virtude de afeições e solidariedades
diárias.
por Nádia Simão
por Nádia Simão
Um texto perfeito... em toda a linha... que descreve de forma magistral os tempos actuais! E nio qual me revejo, em cada palavra...
ResponderEliminarUma tremenda partilha, Cris!
Adorei! Continuação de uma boa semana!
Ana
Que bom que gostaste, Ana :)
EliminarA Nádia é uma grande amiga minha e escreve muito bem. Fica atenta porque ela vai andar muitas mais vezes aqui pelo blogue ;)
Beijinhos