Ao longo da vida vamos
questionando atitudes, valores, paixões, motivos que nos levam a
determinados comportamentos e resoluções tomados perante outros; é
facto assente que vivemos em sociedade, devemos respeitar uma
diversidade de gente com suas características únicas, devemos agir
de acordo com certas regras implícitas ao bem estar comum mas também
devemos a nós o saber equilibrar tudo isso com nossos ideais,
nossas crenças, nossa maneira de pensar e até nossos conflitos
interiores (todos os temos).
Durante os
diversos estágios do amadurecimento vamos sendo confrontados com
caminhos a seguir, escolhas a fazer, decisões a tomar, deveres a
cumprir e uma vontade própria de ser feliz; todo este
exercício de equilibrismo se pode tornar exaustivo quando uma das
partes da balança fica sujeita a um peso descompensado, quando o que
queremos se anula em detrimento do que supomos que os outros querem e
nos deparamos com remorsos, culpas e sensações de não sermos
suficientemente bons, autónomos, recompensados.
A
principal questão talvez seja que a humanidade não se
compadece com os valores individuais, com as tristezas alheias, com
privações de sossego mental ou espiritualidades benevolentes; e a
cada escolha que fazemos surgem incertezas sobre se optámos pelo
melhor para nós ou apenas fizemos o que os outros esperavam de
nós. É uma constante intermitência para a maioria dos seres
humanos que se pautam pela bondade, pelo pacifismo de palavras e
actos, pelo cumprir de sonhos que englobem o bem estar de todos e não
só de si mesmos, é uma batalha entre a razão e o coração
geralmente ganha pelo bem estar do próprio em detrimento
de sentimentos de abnegação e ajuda ao próximo.
No meu entender,
e porque tenho lutado desde jovem entre a minha bondade e o que os
outros realmente merecem dela, nunca seremos totalmente eficazes em
gerir as emoções dispersas por entre actos sociais, físicos e
psicológicos que nos cercam desde que aprendemos o que é amar, para
que serve o amor e porque devemos insistir na sua imortalidade
enquanto não fechamos os olhos de vez. Eu sou defensora
incondicional do bem, do amor, da cordialidade, do perdão e do bem
estar daqueles que ocupam os lugares especiais do meu coração,
porque no meu coração há pequenas divisões e diversos rios que
desaguam no mar que se espalha por entre o meu corpo e todos os
órgãos que o mantêm vivo.
Cada dia tento
melhorar-me, ser mais paciente, não ceder ao stress e à culpa
imediata quando algo não se desenrola como inicialmente previ ou me
pareceu ser melhor, cada mês tento exigir-me menos e deixar de lado
más disposições ou irritações menores que só causam
desconforto, cada ano tento moldar-me mais ao que me dá felicidade e
menos ao que me consome energia positiva; é difícil, acreditem, e é
árduo equilibrar o tempo por entre o que desejamos e o que os
outros desejam ou precisam de nós, entre o que nos faz sorrir e o
que deixa os outros contentes, entre o nosso amor próprio e o amor
que dedicamos ao outro, entre o que acreditamos e o que fingimos
acreditar para não magoar sentimentos alheios, uma luta constante
entre a alma e a mente que deixa mágoas, por vezes incuráveis,
quando num ápice caímos no fosso de reagir em vez de agir.
Durante anos fui
capaz de aceitar tudo para fazer alguém feliz, fazer-te a ti feliz
deixando de lado coisas importantes da minha vida ao priorizar-te
sem olhar ao meu desconforto nos momentos de meio-termo, de tanto
faz, de metades; mas hoje acredito um pouco mais que a ‘perfeição’
é como um sapato em que devo estar confortável e por isso prefiro
saltos mais baixos que me deixem confortável, segura comigo mesma, e
hoje também sei de maneira mais veemente que a vida é demasiado
curta para não aproveitarmos tudo o que nos oferece, para não
sermos felizes à nossa maneira, sem querer impressionar outros,
fazendo das quedas novas oportunidades de reaprender a caminhar.
A grande
questão não é, pois, se devemos continuar a preferir a
bondade e a ajuda ao nosso semelhante mas sim se devemos anular a
nossa felicidade sempre em prol dos outros , para que a vida alheia
seja mais doce, mais suportável, mais feliz com a nossa intervenção;
porque se agirmos apenas em prol dos outros e em detrimento
do nosso bem estar, da nossa saúde física e psíquica, então não
seremos capazes de amar em pleno e aceitar as nossas falhas quando
nem sempre formos capazes de solucionar os males do universo ou
enxugar todas as lágrimas dos que amamos.
Sermos
autossuficientes e amarmo-nos em primeiro lugar é essencial para que
sejamos coerentes nos actos e nas palavras. Compreendamos então que
a vida é feita de dádivas que se unem para formar uma manta
protectora sobre os que são íntimos e nos estendem a mão
nos dias em que somos nós a chorar, a perder o rumo, a cambalear, a
não saber sorrir…porque somos apenas feitos de carne e osso!
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