É uma violência
forçar uma mãe a deixar o filho/a numa creche que mal conhece para
se ir enfiar num escritório durante 7/8 horas ou mais.
Um bebé de
meses, não fala, não se sabe expressar, uma criança que ainda
precisa tanto do colo materno e de quem, a mãe, precisa imensamente
para se recuperar das dores de dar à luz, que são tantas, desde
físicas a emocionais. São tantas, que ficam, ficam para sempre,
nunca mais são esquecidas, mesmo que tentemos não lembrar, elas
ficam guardadas em nós como cicatrizes no coração, na alma, no
peito. Uma experiência amarga, não há mãe alguma que não tenha
uma história para contar, muitas vezes as piores e as melhores horas
da nossa vida num turbilhão de sentimentos.
Merecemos mais do que
isto. Merecemos tempo, tempo para criar o futuro do mundo, o futuro
de um país, de uma raça, da humanidade. Merecemos tempo para os
preparar, tempo para os levantar, para caminharem sozinhos,
para saberem comer, ir à casa de banho. Precisamos também nós de
tempo, para nos prepararmos para os largar no mundo e os deixar
viver e principalmente errar, cair, chorar...
Uma sociedade de
exigências que não dá nada em troca. Se não temos filhos, acha
estranho e egoísta. Se temos, abandona-nos à nossa sorte, sem nos
permitir tempo para os educar, sem nos permitir tempo para nos
educarmos a educá-los melhor. Uma sociedade cheia de contradições.
Uma sociedade que empurra os nossos filhos para os avós, os mesmos
avós que a sociedade ignora, despreza e diz que só dão despesa. Os
mesmos avós que trabalharam uma vida inteira e que não têm, agora,
energia para correrem atrás dos netos, vitalidade para os
acompanhar, nem força para os repreender.
O duro regresso ao trabalho, a saudade, a dúvida, o medo, a tristeza
de não poder fazer mais, dar mais de nós. Os meses de licença que
pareceram ter passado a correr mas que deu tempo suficiente para
perderes a tua cadeira, a tua secretária, o teu cubículo que
demoraste anos para conquistar. O regresso a um trabalho que já não
é o teu, a falta de motivação para começar tudo de novo, e a
tristeza, mais uma vez, por seres tão descartável. A frustração.
Em casa, um ser que precisa de ti como a planta precisa de água e
luz, aqui, uma empresa que te despreza porque quiseste dar
continuidade à raça humana. O dilema. Que fazes tu aqui?
Decides voltar. Apertas
os cordões à bolsa e ponderas o que vais fazer com a tua vida
enquanto o teu marido, pai da criança, trabalha a dobrar. Ambos
sabem que estão a sacrificar-se. Ambos têm a certeza que estão a
fazer o que é certo. Ambos confiam no amor, apenas nele, para
manterem o barco à tona. Ambos continuam a remar...
foto | photo: Cris Loureiro blogs
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