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14.6.16

A maternidade e o emprego




É uma violência forçar uma mãe a deixar o filho/a numa creche que mal conhece para se ir enfiar num escritório durante 7/8 horas ou mais. 

Um bebé de meses, não fala, não se sabe expressar, uma criança que ainda precisa tanto do colo materno e de quem, a mãe, precisa imensamente para se recuperar das dores de dar à luz, que são tantas, desde físicas a emocionais. São tantas, que ficam, ficam para sempre, nunca mais são esquecidas, mesmo que tentemos não lembrar, elas ficam guardadas em nós como cicatrizes no coração, na alma, no peito. Uma experiência amarga, não há mãe alguma que não tenha uma história para contar, muitas vezes as piores e as melhores horas da nossa vida num turbilhão de sentimentos. 
Merecemos mais do que isto. Merecemos tempo, tempo para criar o futuro do mundo, o futuro de um país, de uma raça, da humanidade. Merecemos tempo para os preparar, tempo para os levantar, para caminharem sozinhos, para saberem comer, ir à casa de banho. Precisamos também nós de tempo, para nos prepararmos para os largar no mundo e os deixar viver e principalmente errar, cair, chorar... 

Uma sociedade de exigências que não dá nada em troca. Se não temos filhos, acha estranho e egoísta. Se temos, abandona-nos à nossa sorte, sem nos permitir tempo para os educar, sem nos permitir tempo para nos educarmos a educá-los melhor. Uma sociedade cheia de contradições. Uma sociedade que empurra os nossos filhos para os avós, os mesmos avós que a sociedade ignora, despreza e diz que só dão despesa. Os mesmos avós que trabalharam uma vida inteira e que não têm, agora, energia para correrem atrás dos netos, vitalidade para os acompanhar, nem força para os repreender.

O duro regresso ao trabalho, a saudade, a dúvida, o medo, a tristeza de não poder fazer mais, dar mais de nós. Os meses de licença que pareceram ter passado a correr mas que deu tempo suficiente para perderes a tua cadeira, a tua secretária, o teu cubículo que demoraste anos para conquistar. O regresso a um trabalho que já não é o teu, a falta de motivação para começar tudo de novo, e a tristeza, mais uma vez, por seres tão descartável. A frustração. Em casa, um ser que precisa de ti como a planta precisa de água e luz, aqui, uma empresa que te despreza porque quiseste dar continuidade à raça humana. O dilema. Que fazes tu aqui?

Decides voltar. Apertas os cordões à bolsa e ponderas o que vais fazer com a tua vida enquanto o teu marido, pai da criança, trabalha a dobrar. Ambos sabem que estão a sacrificar-se. Ambos têm a certeza que estão a fazer o que é certo. Ambos confiam no amor, apenas nele, para manterem o barco à tona. Ambos continuam a remar...

(a continuar...)

foto | photo: Cris Loureiro blogs

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