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3.8.17

a escolha de não ser mãe [imprefeições alheias]

Hoje venho-vos falar sobre um tema que causa polémica na sociedade, que produz ideias contrastantes e gera muitas vezes opiniões extremadas de ambas as partes que vivem ou não a maternidade.

Vem de longe, desde que o homem evoluiu para uma espécie inteligente e reprodutora, a tão generalizada e enraizada ideia de que a mulher evoluiu para ser mãe e fortalecer a espécie com o contributo da doação de vidas; e é óbvio que sendo apenas a mulher a conceber vida para que a espécie humana continue a sua reprodução e evolução seria desastroso para a nossa sobrevivência se todas as mulheres vivas se negassem a engravidar e gerar homens e mulheres.
Mas a questão que me leva hoje a escrever sobre a maternidade é sobre crença, empatia e até mesmo altruísmo por parte das mulheres que decidem de plena consciência não serem mães, quer biológicas quer adoptivas, tendo de antemão uma legião de vozes contra tal decisão. A maioria de vocês que me lerão serão provavelmente mães, mulheres que escolheram ser mãe por desejo e por convicção, por vontade de deixar no mundo o vosso legado e sentirem-se preenchidas e nutridas por tal "profissão" eterna; e por isso é de extrema importância que entendam estas minhas palavras como parte de uma opinião pessoal sem qualquer tentativa de julgar ou reclamar qual das opções está certa ou errada.

É meu intuito apenas que haja compreensão mútua entre mulheres que são mães e mulheres que não são mães, uma difícil tarefa nas sociedades que se têm degladiado numa demanda em criar uma espécie de céu e inferno da "bíblia maternal"; como se a perfeição estivesse do lado das geradoras de vida e a imperfeição naquelas que "recusam" o dom de dar à luz uma criança. A mim faz-me alguma impressão quando se diz a uma mulher que não quer ser mãe que esta morrerá incompleta, que está a renegar a maravilha da maternidade, que não será esposa dedicada, e outros aforismos do género (muitos deles embebidos em crenças religiosas que deturpam a imagem feminina).
Eu confesso que não sou mãe, nunca senti aquele dito desejo maternal, que não me embeveço na presença de bebés, que estou longe do esterótipo de esposa dedicada e mãe de filhos atenta e extremosa; não entendam como não gostando de crianças, gosto da gargalhada pura de um bebé e divirto-me com os sorrisos de crianças e sua ingenuidade mas não numa vertente permanente 24 sobre 24 horas em que o "papel" de mãe recaia sobre mim.

Acredito que uma mulher não toma a decisão de não progenitorizar de ânimo leve, e não falo aqui dos casos das que não podem ser mães por motivos biológicos, pois é também esta uma decisão para a vida que terá consequências igualmente "eternas"; e acredito que quem decide não ser mãe deve ser respeitada pelas suas iguais sem que constantemente passe por escrutínios de familiares, amigos, vizinhos, que se acham no direito de tecer duras críticas à sua escolha.
Por diversas vezes assisti a conversas em que mulheres reivindicavam a maternidade como algo sagrado, como uma escolha que deveria ser inquestionável e uma espécie de burka a ter que ser usada por todo o género feminino; senti olhares de reprovação ao relatar a minha escolha e fui confrontada com a ideia de que estarei a cometer um grave erro, até mesmo a ser ingrata com o meu útero que foi "criado" para gerar vida, quase como se roubasse esse direito às mulheres que não podem ser mães.
Mas sejamos honestas, deixemos questões de cariz religioso no lugar devido, façamos uma análise puramente científica e biológica: seria possível a cada mulher que decide não gerar uma criança dar a cura para cada uma que não o pode fazer por deficiência biológica? A resposta todas sabemos é não, se eu opto por não ser mãe isso não faz com que por artes mágicas uma mulher algures de repente o possa ser, logo eu não devo ser responsabilizada por estar a "deitar fora" o meu dom de poder gerar vida.

Como vos disse no início deste meu pequeno contributo, o tema da maternidade é sensível e gera há séculos discórdia entre mulheres e é essa dicotomia que me gera alguma incompreensão na união entre o sexo feminino; porque seriamos mais fortes se nos entendêssemos mutuamente, se aceitássemos as escolhas de cada uma sem questionar os motivos e apontar dedos acusatórios, se compreendessemos que até a maternidade deve ser uma escolha pessoal sem influência de outros.
Decidir não ser mãe deve ser tão válido como desejar sê-lo e essa escolha não deve tornar-se num pêndulo crucificatório sobre a cabeça de quem por motivos pessoais ou de outra génese a faz. Querer tornar uma mulher que opta por não gerar vida e também não adopta numa espécie de pária social é inocrrecto, é indevido e é muitas vezs injusto, ninguém sabe os porquês de tal decisão e até mesmo as circunstâncias de vida que levam uma mulher optar por não ser mãe biológica ou adoptiva.

A minha decisão por exemplo teve vários factores, desde questões que se prendem com pouca certeza de vir a ser uma boa mãe (com capacidade para educar, alimentar, compreender, escutar, criar e afins) até factores temporais e sentimentais. Porque por vezes há mulheres que até pretendem inicialmente ser mãe mas vão adiando a gravidez por motivos profissionais, familiares, emocionais, etc, e quando se dão conta a idade já não acolhe tal ideia e a vontade acaba por diluir-se; e também há as que demoram a encontrar um parceiro com quem sintam realmente que ser mãe faz sentido, que não querem fazer por pressão ou acabar com um bebé de pai ausente e nada responsável e por isso acabam por centrar a felicidade noutros aspectos.
E depois há o meu caso, que será possivelmente o de tantas outras mulheres, em que a decisão se prendeu maioritariamente com um sentido altruísta de não dar vida a uma criança apenas com o intuito de "agarrar" um homem, de dar um neto aos meus pais (de filha única, sem hipótese de serem avós de outro progenitor) para os ver mais felizes ou de fazer aquilo que é esperado a uma jovem em idade casadoira e fértil.
E quando digo altruísta é porque entendo convictamente que ser mãe não é dar à luz e é o oposto de querer ter um filho, aliás li há pouco um artigo muito bem escrito de um psicólogo que punha o dedo na ferida questionando as mulheres o seguinte: - querem ser mães ou terem um filho? - e a diferença, creiam, é abismal porque qualquer mulher está apta a ter um filho (salvo as tais excepções impeditivas do foro físico) mas nem toda o está a ser mãe.

Eu entendi que poderia ter um filho mas não ser mãe e tomar a decisão difícil de não ser é para mim altruísta no sentido de preservar uma criança que nasceria e não seria porventura envolvida no acto gigante da maternidade tal como deveria ser; poupar um ser humano a crescer no seio de dúvidas, de incertezas, de incapacidades alheias é deixar o mundo um pouco menos cheio de tantos homens e mulheres nascidos e criados por mulheres em permanente questionamento se estes deveriam ou não ter nascido e se elas não seriam mais felizes sem eles.

Termino dizendo que a única coisa de que tenho a certeza é que se fosse mãe amaria incondicionalmente a minha filha (e digo filha porque sempre acreditei que se viesse afinal a ser mãe teria uma filha saída do meu ventre), mas ser mãe não é também apenas amar o ser que geramos pese esse ser o mais importante sentimento no seio da maternidade.

Ás mães que me lerem, o meu apoio pela decisão de o serem; ás não mães, o meu mesmo apoio pela decisão de não o terem sido.


3 comentários:

  1. Assunto complicado este nao? E caso para dizer que so nao me arrependo daquilo que nao fiz ;) Para bom entendedor meia palavra basta :)
    Bjinhosss
    https://matildeferreira.co.uk/

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  2. Todas as decisões têm mérito e todas merecem ser respeitadas.

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  3. E a ti o meu apoio por este texto :)
    Sou mãe duas vezes porque quis, não por obrigação, mas nunca critiquei nem vou criticar quem não é mãe por opção.
    As mulheres (e homens também) têm direito a ter ou não filhos.
    A maternidade não é nem pode ser uma obrigatoriedade.
    Parabéns Nádya
    Marta
    https://pitinhosdamarta.blogspot.pt/

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