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25.8.16

sete anos de emigrante

Faz hoje sete anos que cheguei a terras Britânicas. Opel Corsa carregado até ao topo, muitas incertezas, muita expectativa, uma enorme ansiedade mas uma estranha falta de medo. Sempre fui uma pessoa de ir, ir sem pensar muito, ir onde o coração me levasse, ir sem medo. Sempre fui destemida, nunca fui pessoa de ter medo do escuro, de andar por becos estranhos, de me fazer ao desconhecido. O medo chegou exatamente depois do nascimento da L. Depois de ela nascer eu mudei e a minha aventura de vida mudou comigo. 

A chegada ao Reino Unido fez-se de barco, os primeiros quilómetros em Inglaterra pareceram demorar eternidades e Londres pareceu-me uma cidade escuro cheia de restrições e dificuldades. Eram perto de 11 horas da noite quando estacionámos o carro junto à casa da amiga do D., em Waterloo, onde iríamos passar os primeiros dias, até arranjarmos um espaço qualquer para nós. A H. acolheu-nos com o calor tipicamente português que nos caracteriza. Disponibilizou-nos o quarto dos filhos, enquanto estes ficaram na sala, foram todos exemplares e só tenho gratidão para com esta pequena família de gente tão boa. 

Tudo era estranho para mim, muito estranho, parecia saído de um filme Americano, daqueles em que uma jovem vai tentar a sorte em Hollywood e dispõe-se a fazer qualquer coisa e a dormir em qualquer canto. E, na verdade, é a realidade da maioria dos que recomeçam a vida longe de casa.




Trouxemos connosco o essencial para começarmos a vida, roupa de cama, toalhas de banho, pratos, tachos, etc. Trouxemos pouco mais de €1000 para nos governarmos durante um mês, incluindo alugar um espaço para morar, comer, transportes, gasolina, etc. O D. veio já com trabalho arranjado através de telefone, contactos que tinha deixado aqui de quando cá esteve anteriormente.

Foi uma semana de adaptação complicada. Queríamos arranjar onde ficar, não me sentia particularmente bem ao saber que estava a tirar os filhos da H. do conforto deles. Arranjámos uma solução provisória, alugámos um quarto na casa de uma conhecida do D., onde ele já tinha arrendado um espaço anteriormente. A procura continuou nas semanas seguintes, queríamos um espaço só nosso, talvez um estúdio numa zona mais luminosa mas relativamente perto do trabalho do D. e do meu também. Entretanto, tinha, também eu, arranjado um trabalho num café português, precisávamos de juntar dinheiro para pagar o depósito e a renda adiantada quando encontrássemos o local perfeito.
Em finais de Outubro já estamos de mudança (de novo) para o nosso cantinho, mesmo a tempo para montar a árvore de Natal. Um apartamento estúdio, enorme, com acesso direto a um jardim comum, numa zona excelente da parte sudoeste da capital inglesa. Um achado!

Foi um recomeço de vida de muito trabalho. Passámos o primeiro ano e meio a trabalhar muito mas também a aproveitar cada dia de folga, cada hora de descanso, de forma intensa, conhecendo Londres e arredores nos dias de sol e usufruindo intensamente da companhia um do outro nos dias mais cinzentos. 

Agradeço a este país o acolhimento que me deu, a possibilidade de melhorar o meu inglês, de descobrir uma nova realidade e forma de viver, a possíbilidade de trabalhar, de usufruir do sistema nacional de saúde gratuitamente, de me permitir passear sem portagens, do previlégio de ver neve e de, por breves horas/dias, conviver com a realidade de um país gelado. Agradeço a certeza de que, pelo menos até hoje, não falta trabalho e, por isso, não falta também esperança num futuro sempre melhor. Agradeço, ter-me proporcionado ter duas filhas e elas terem direito a 15 horas de creche gratuita a partir dos 3 anos e, posteriormente, usufruírem de um sistema educativo gratuito. Agradeço, viver num país onde aprendi a valorizar o sol e o mar como nunca antes o fizera verdadeiramente. Agradeço o facto de, mesmo carregada de medos, os medos que não tive há sete anos, abraçar a mudança com esperança e querer sempre mais e melhor. Agradeço a possibilidade que me dá de sonhar e a fé que me transmite para concretizar.




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