Está quase a fazer um ano desde que me separei. Seria errado não começar por falar nisso, porque nestes últimos 11 (quase 12) meses, foi essa minha separação do pai das minhas duas filhas que definiu muito do que eu sou hoje. A separação obrigou-me a repensar rotinas, estratégias, e finanças. Tive de arquivar alguns sonhos, e adiar provisoriamente outros quantos projectos, porque acima de tudo sou a mãe de duas miúdas, e é essa a minha prioridade neste momento.
Tem
sido uma estrada difícil de percorrer. Tive de reaprender a usar o
meu tempo de forma eficiente, e tive de contrariar muitas das minhas
filosofias de mãe canguru em nome da praticabilidade e da minha
saúde mental. Se antes eu não acreditava em rotinas, horas para
dormir, horas para acordar, e na implementação de uma estrutura
diária consistente e previsível - hoje estou a maior fã desse
sistema porque é o único que parece funcionar cá em casa.
Tirando
a terça-feira (que é o único dia em que estou em casa), trabalho
todos os outros dias. Portanto, em quatro manhãs por semana tenho de
cuidar das miúdas, e ainda fazer a minha maquilhagem, cabelo, e
vestir algo mais formal – nada fácil, principalmente quando elas
decidem que o pão com Nutella (sim as minhas filhas comem Nutella!)
do pequeno almoço sabe muito melhor se for espalhado pela cara e
pelas mãos no mesmo dia em que a mãe decide vestir uma camisa
branca!
Uma
coisa é certa, entre o acordar, tomar pequeno almoço, insistir
quinhentas vezes com a mais velhinha para que vista a farda da
escola, e mudar duas fraldas da mais nova – tudo isto antes das 8
da manhã - soltam-se normalmente uns palavrões entredentes, e umas
respirações profundas de desespero. Mas as coisas compõem-se assim
que saímos de casa e, depois de todas devidamente sentadas e de
cinto posto, entramos no chamado ‘school run’. O ‘school run’
é a hora mais agri-doce que existe, porque é quando deixamos as
nossas crias na escola/ childminder ou no infantário, e seguimos
(quase entre cotoveladas com os outros pais) a caminho do trabalho. É
um sentimento misto de tristeza e alívio.
Ao
final do dia de trabalho, vou buscar a mais velha à childminder,
porque as escolas aqui acabam ás 3 da tarde mas os dias de trabalho
normalmente ás 5 ou 6. Depois é ir buscar a mais nova ao
infantário, chegar a casa, banho, jantar, brincadeira enquanto se
arruma a cozinha, e cama.
E
é nessa altura, entre o inicio do sono delas e do meu, que estão
normalmente 3 horas de trabalho frente a um computador, ou frente a
um livro de economia, ou ainda frente a uma resma de exames para
corrigir. É também a altura em que mais se pensa na vida, se fazem
contas, se programam saídas e férias, e ás vezes num momento raro,
se consegue ver um filme no Netflix, ou se dá uma espreitada no
Tinder.
Há
horas de extrema solidão, momentos de grande fraqueza e dúvida.
Muitas vezes pergunto-me se estarei a ser a melhor mãe para elas ou
a dar o melhor exemplo. Tirando os fins de semana (que é quando
estamos realmente todas juntas com tempo e sem stress ou correria), a
semana de trabalho passa quase de fugida e de forma muito mecânica,
sem grandes demonstrações de afecto porque se chega a um ponto de
exaustão total. Mas basta olhar para as nossas fotos, e ver que
estão cheias de sorrisos e olhos luminosos. Coração, calma. Devo
estar a fazer algo bem, por muito que me pareça o contrário ás
vezes. Sozinha, tenho puxado a carroça com as minhas próprias
costas, e o melhor disto tudo é ver que a carroça está a andar
para a frente. Não preciso de mais nada.
Emocionalmente,
ainda tenho de lidar com as feridas da separação e acreditar que
tudo isto será uma fase, elas vão crescer e sei que um dia- entre o
cuidar das minhas filhas, e o desenvolver da minha profissão - eu
vou ter a coragem e o tempo necessário para deixar alguém especial
entrar nas nossas vidas. Para já fico a plantar sorrisos e semear
sonhos na vida das minhas miúdas, e isso agora chega-me.
por Leonor Silva de Matos
por Leonor Silva de Matos
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