“A ansiedade social ocorre
frequentemente lá atrás na infância como uma parte normal do
desenvolvimento social e passa despercebida até a idade adulta.
As causas e frequência da ansiedade
social variam consideravelmente, dependendo de cada pessoa.
A maioria de nós pode sentir um certo
nervosismo em determinadas situações sociais, como fazer uma
apresentação, sair para um encontro, ou participar de uma
competição. Isso é normal e na maioria dos casos não é
transtorno da ansiedade social.
O transtorno da ansiedade social é
quando as interações sociais do dia a dia causam medo excessivo,
autoconsciência e vergonha.
Coisas simples como comer em lugares
públicos ou interagir com estranhos podem se tornar desafios
consideráveis para uma pessoa que sofre de transtorno da ansiedade
social.”
(em www.ansiedadepanico.com)
Por vezes necessitamos abrandar,
respirar fundo três vezes e verificar o que nos deixa instáveis,
cansados, desmotivados. A ansiedade é um dos diagnósticos que mais
pode demorar a percepcionar sem assistência médica pois achamos que
andamos apenas mais stressados que o costume ou que são pequenas
fases mais atribuladas e vamos engolindo os problemas.
A questão fulcral é que mais de
metade da população sofre ou virá a sofrer de ansiedade, de
depressão crónica, de fobias cada vez mais irracionais e
incapacitantes; a humanidade não se tem adaptado eficazmente para a
crescente multiplicação de tarefas, para o crescimento desenfreado
de empregos esgotantes, para a descaracterização do bem estar dos
povos, para as mudanças climáticas e consequentes doenças novas…
Parece contraditório que se ganhe mais
hoje, na generalidade, que se tenha melhores condições de
habitação, melhores veículos de transporte, mais modernidade, mais
benefícios mas que andemos mais doentes, mais desiludidos, mais
amorfos e muito menos solidários; há um egoísmo que cresce à
velocidade da luz, uma soberba de minorias que continuam a encurralar
os desfavorecidos, os que trabalham por conta de outrem, os
desfavorecidos física e intelectualmente, os agredidos pela
sociedade apenas por nascerem em determinado país ou de determinado
género. Terrivelmente vai uma sociedade quando os valores de paz,
solidariedade, beneficência, amor são renegados e onde imperam o
capitalismo, a soberba, a ganância, o desrespeito, o ódio, a
ditadura de valores, escolhas ou pensamento; quando quase todos nos
tornamos cordeiros que seguem cegamente crenças políticas,
religiosas ou ideológicas, o mundo perde a essência do que se
obteve com a evolução do homem que gerou vida atrás de vida,
descobriu a ciência, a medicina, evoluiu na psicologia, na
sociologia, lutou por ideais, transformou magia em realidade…
Toda esta diferença de
comportamentos gera indivíduos cada dia mais ansiosos, agressivos,
dissociados da realidade, gera uma população cada vez mais
absorvida nos empregos esgotantes, nas escolhas frustradas, em
casamentos incompatíveis, em solidões duradouras e gera gaps
profundas entre pais, filhos e avós numa roda viva de experiências
cada vez mais insatisfatórias e descartáveis.
Mas, retomando o tópico da ansiedade,
há quem conviva durante anos com este mal-estar que é provocado
maioritariamente por uma baixa auto-estima e dificuldade em se
aceitar e valorizar perante os demais; estas pessoas têm dificuldade
em socializar no meio de multidões, de pessoas com interesses
díspares, são indivíduos sossegados e tímidos que não gostam dos
holofotes do protagonismo mesmo que, entre os seus, ajam com
naturalidade e à-vontade; a ansiedade provém de um crescimento mais
solitário embora o afecto familiar esteja presente, pois a ansiedade
não é geralmente associada a pessoas com historial afectivo
negativo. A pessoa que sofre de ansiedade nervosa é funcional, não
carrega os mesmos sinais de um depressivo crónico, e geralmente
consegue obter resultados satisfatórios apenas com ajuda de
psicoterapia e exercícios que elevem a auto-estima e geram reforço
das qualidades inatas que estão apenas bloqueadas pelo cérebro
ansioso. Não é fácil conviver rodeado por receios de falhanços
consecutivos, ter a sensação de que todos nos observam e comentam
qualquer falha, qualquer silêncio mal interpretado, não é saudável
impor ao organismo as descargas de stress diário sempre que uma
crise de pânico ou de choro surge sem causa aparente.
Por vezes são precisos vários anos
para se entender que a questão principal não é a timidez, não é
a preferência por estar sozinho no seu canto, não é a
personalidade mais introvertida que desarma o cérebro e o faz
rodopiar por um mar de dúvidas, de medos, de inaptidões sociais, de
frustrações que mitigam os dias e castigam o futuro de quem se vê
sobressaltado por fantasmas criados no cerne da inteligência, no
centro do coração; o ser humano ansioso demora a amar-se, a
desprender-se dos “e se…”, dos “mas porque é que eu não…”
, custa-lhe respirar quando tudo parece falhar à sua volta,
encolhe-se perante sonhos mais ousados e quase sempre se culpa pelas
suas falhas e pelas falhas dos outros para consigo, a ansiedade rouba
a paz de quem se coloca sempre em segundo plano e se crê inferior à
imagem que os outros têm; uma das lutas de quem sofre de ansiedade é
entender que o importante não é o que os outros possam pensar de
si, que o mundo não está focado nas suas falhas e nas suas quedas e
que o seu valor só depende dele mesmo; o ansioso perde-se na imagem
que cria do que os outros possam pensar, ou seja, para aquele que
anseia demais quase todos lhe parecem existir de dedo em riste à
espera que caia, falhe ou seja incapaz de atingir um propósito.
A ansiedade pode ser esgotante, retira
ao indivíduo as suas capacidades máximas de se impor perante as
suas escolhas, os seus desejos, de sonhar alto e concretizar o que
lhe faz feliz e não o que faz bem aos outros; o ansioso vive mais
para os outros que para si, é-lhe difícil dizer não ou
respeitar-se quando de si abusam, acaba numa roda de culpa por não
ser capaz de se impor quando muitos se aproveitam da sua bondade, do
seu coração sensível.
Em muitos casos de ansiedade há por
detrás um indivíduo inteligente, criativo, bondoso, crente no lado
bom da humanidade, sensível, honesto, pacificador, teimoso para com
a vida e extremamente intuitivo mas que, por razões por vezes
desconhecidas à primeira “vista”, se encolhe perante o espelho e
se diminui perante as constantes mudanças sociais e situações onde
não consegue encaixar-se; um ansioso tem dificuldade em entender
porque se distanciam cada vez mais as pessoas, não lhe é fácil
conviver com a arrogância e o desprezo, não se dá bem com as modas
do crescente individualismo cego, não se consegue rever nos
quotidianos onde a maioria se atropela, não comunica, não é
solidário, agride com facilidade, desentende a diferença e critica
o que foge aos ditos parâmetros globalizados.
Não quero contudo que se entenda que a
“culpa” de alguém ser ansioso é da sociedade mas é de facto a
sociedade que na sua dificuldade de entrosamento pode dificultar a
vivência de quem ama demais, sente demais, expia demais os pecados e
se despedaça na incapacidade de ser apenas mais um autómato social;
talvez a ansiedade incapacite até ser curada mas dentro de um
ansioso há um coração sincero que apenas gostava de conseguir
colorir o mundo!
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