De um sopro nascemos e num sopro
morremos, no entretanto cabe a vida que nos é tão difícil de
entender e tão curta para se absorver cada sonho, cada esperança,
cada tristeza, cada luta, cada sorriso, cada bater do coração…
Quando recebi esta semana a notícia da morte de um amigo, com quem partilhei risos e
trabalho durante 14 anos, fiquei sem qualquer palavra que expressasse
a impotência de um ser humano perante a terrível natureza da morte,
da doença que não se consegue combater, da dor que não sai do
corpo nem da mente dos que ficam a velar o tempo que será diferente
doravante.
Tentar confortar uma esposa e mãe,
também ela amiga, que perde numa simples noite o seu “suporte”
emocional, o seu companheiro de vida e o pai dos seus dois filhos
menores, não é nem fácil nem suficiente para o vazio que chega sem
aviso; nestas alturas ficamos do tamanho de uma estrela perdida na
imensidão do céu escuro que é a morte, o infinito silenciar e o
derradeiro suspirar após uma vida em que não se conseguiu almejar
todos os sonhos nem partilhar todos os abraços.
Que jovem acredita passar por tal
desespero no auge da vida, quando tem o necessário para ser feliz?
Quem se imagina a sofrer com o diagnóstico de um cancro, a passar
dias infindáveis por entre tratamentos agudos e a definhar por
noites agitadas? Que homem ou mulher se sente capaz de enfrentar tão
jovem a ideia de perda de um seu companheiro quando a vida parece
caminhar para anos vindouros de arco-íris emocionais?
Eu sempre temi a morte, não sou capaz
de ter uma visão singela de entender o fim e nem consigo perder o
pânico de enfrentá-la, quando os meus tiverem de se despedir, quando
as luzes se apagarem em partes do meu coração e quando eu mesma
tiver de fazer a travessia para o nada. Porque não creio em outra
vida, não corroboro as ideias de reencarnação e não entendo
porque temos de ser finitos; dizem que a maturidade emocional nos
concede mais calma, mais entendimento do sofrer nosso e dos demais e
dizem que o tempo vai amenizando, não esquecendo, a dor da perda
daqueles que nos alegram os dias, que nos ajudam a crescer e a
sorrir, os que cuidamos e nos cuidam durante uma vida; dizem e eu
prefiro acreditar que assim é, porque é menos doloroso, crer que um
dia o nosso coração poderá sorrir de novo após percas
irremediáveis, que aqueles que seguem o caminho do sono eterno nos
cuidam de um sítio melhor mesmo que não saibamos qual nem nunca nos
tenham mostrado.
Quando, na manhã de terça-feira, soube que menos um
amigo teria a contar anedotas, a surfar nas ondas da Costa, a amar os
seus, percebi mais uma vez o quanto a vida é um sopro entre o
acordar e o adormecer.
Toda esta trémula existência
não pode ser em vão, não podemos miná-la com discussões
infundadas, com ódios virais, com ameaças à natureza e ao nosso
habitat, não devemos construir castelos de areia mas sim perpetuar
afectos e construir sonhos com os que amamos e ao redor de dias
felizes e noites serenas; podemos e temos de ser mais amor e menos
raiva, mais ternura e menos desprezo, mais abraço e menos
sofrimento, mais riso e menos choro, mais família e menos
individualismo; precisamos de urgência nos momentos felizes, nos
jantares entre amigos, nas caminhadas de pé descalço, na harmonia
de mente e corpo, na saudade benéfica de reencontros, na música
interna que nos faz bater o coração. E urge entendermos o quão
belos somos, o quão efémera é a vida e o quanto perdemos de cada
vez que não a sabemos estimar e nos perdemos por ninharias e coisas
tolas.
Estou viva e convido-vos a viver mais,
sempre melhor e num sopro de longa duração.
por Nadya Prazeres
E mesmo este o meu pensamento, desde miuda que tambem sempre tive muito medo da morte, agora nao da minha mas daqueles que amo... Ja escrevi no meu blog sobre isto https://matildeferreira.co.uk/2017/03/30/nao-somos-nada/
ResponderEliminarNao somos mesmo nada... :(
Bjinhosss