O que levará uma
mulher independente, adulta, autónoma, livre a transformar-se num
ser aprisionado por um suposto amor?
O que levará um homem
adulto, livre, a perpetuar actos violentos sobre uma mulher em nome
de um suposto amor?
Todos os dias somos
confrontados com notícias de mulheres violentadas, agredidas ou até
assassinadas pelos seus maridos, amantes, namorados em nome de um
amor extremo, de um ciúme passional ou outra qualquer razão
estranha que jamais poderá justificar tais actos hediondos. As
sociedades têm facilitado o uso da violência, a diminuição da
mulher perante a supremacia do homem, a complacência dos meios de
justiça, a ordinarização dos actos de maldade e temos deixado que
a evolução do ser humano se paute por valores monetários, de
aparência socioeconómica, onde tudo vale e nada se pune.
Serão as mulheres
também responsáveis pelos crimes cometidos contra si mesmas, sendo
elas mães e educadoras de futuros homens machistas, egocêntricos,
sociopatas? Estarão as mulheres aquém das suas responsabilidades no
desenvolvimento de filhos respeitosos, equilibrados, generosos,
educados consoante os padrões da liberdade individual e do
companheirismo entre casais?
Estarão os homens
condenados ao estigma do comportamento selvagem e animalesco, onde o
sexo impera e a vulnerabilidade sentimental é vista como “lepra
social”, onde a postura dominante parece envolvê-los em atitudes
másculas, agressivas, ditatoriais perante o tão chamado “sexo
fraco” feminino?
Ou seremos todos
responsáveis, uns por omissão outros por enraizamento social,
geracional?
Será a sociedade
actual a maior responsável pela alienação do direito de amar e ser
amado sem limite de afectos ou encarceramento da liberdade
individual, quando expõe cada indivíduo a um sem fim de actos
violentos, sanguinários, egocêntricos, bélicos, xenófobos, de
exclusão de classes, de pobreza extrema?
Todas estas questões
me atravessam o pensamento numa idade em que cada vez me é mais
difícil compreender como se pode o amor transformar em prisão, em
ódio, em ciúme destrutivo, em humilhação; o que fará um homem ou
uma mulher ter prazer em actos de diminuição do seu semelhante, do
seu ente querido, do seu companheiro de vida…? Porque nos é cada
dia mais fácil assobiar para o lado, acreditando que certos
problemas só acontecem aos outros, aos mais fracos que nós, aos mais
pobres ou mais incultos, aos que sofrem de um qualquer distúrbio
psicossocial?
A humanidade tem andado
de mão dada com a violência, com os afectos do dinheiro, do poder e
do engrandecimento por meio de tráficos e esquemas nublosos; temos
vindo a educar os nossos num conceito de que o mais forte vinga, de
que qualquer arma usada se justifica, que o respeito e a honra são
conceitos obsoletos e que o que se faz entre paredes nada influencia
os demais; pois nada mais errado existe que permear uma sociedade de
egoísmos, de defesa por leis sem escrúpulo, do mantimento de ideias
retrógradas e antissociais, pois seremos nós as vítimas de tal
sustentabilização precária.
Fará sentido que o
amor se torne um elo de separação em vez da maior força que
permite ao ser humano evoluir, manter descendência, ser uma força
catalisadora de energia e inteligência vital para o desenvolvimento
deste planeta? A mim não me faz sentido, não compreendo que seres
semelhantes entre si se ostracizem, se gladiem, se comprometam, se
matem porque divergem nas opiniões, na religião ou fé, na cor de
pele, no género de espécie…não me faz sentido que um homem ou
uma mulher se creiam donos de um seu companheiro, que o destruam com
palavras ou actos, que o violem física ou psicologicamente apenas
por se julgarem superiores numa hierarquia fantasma que a sociedade
incentiva para gáudio de espectadores ávidos de um reality show de
horrores diários.
É-me imperativo
continuar a acreditar que o amor entre todos não pode nunca ser
doentio, abusivo, cruel ou hipnótico, pois não é amor quando dele
uma mulher ou homem se faz morte.
por Nádia Prazeres
É urgente terminar com situações destas! É urgente existir uma mudança na sociedade, em termos de comportamento, valores...
ResponderEliminarBeijinhos
às vezes cabe aos pais operarem essa mudança. Por um lado darem o exemplo e por outro ensinarem as filhas a que merecem o melhor e que por vezes está-se melhor só do que mal acompanhada. E aos filhos a serem mais Homens com "H" maiusculo... infelizmente ainda há muito pai "macho" que acha normal que um rapaz diga asneirada atrás de asneirada só porque é rapaz. Acha bem e normal que o filho brinque e pise nos sentimentos de uma rapariga... enfim... tudo tem de mudar logo na educação e no exemplo... depois já é tarde demais...
EliminarObrigada Chic'Ana.
ResponderEliminarCabe a cada um de nós ajudar, alertar e tentar fazer melhor, educar melhor e acreditar nos bons valores.
Beijinhos