No Reino Unido, o custo de deixar uma criança ao cuidado de
profissionais ( berçários, infantários, amas, clubes pós
escolares, ou babás), pode custar tanto ou mais que aquilo que os
pais pagam de renda. Por exemplo, uma família com duas crianças de
2 anos e 5 anos, entregues aos cuidados de alguém a tempo inteiro
(normalmente de segunda a sexta-feira) - isto enquanto os pais
trabalham - pode pagar cerca £11,700 por ano só em mensalidades
(Family and Childcare Trust Annual Report, 2014). Para pais
solteiros, esta realidade leva a que muitos desistam de trabalhar a
tempo inteiro para poderem suportar o encargo financeiro ligado ao
que aqui se chama de ‘childcare’.
Reino Unido é dos países da Europa onde mais se paga ‘childcare’,
precedido apenas pela Suiça (Daynurseries.co.uk , 2014). Nos países
nórdicos, onde se paga mais imposto, o childcare é virtualmente de
graça ou tem um limite que normalmente não vai acima dos £300 por
mês. Diante desta situação, que é em parte criada pelo reduzido
rácio de crianças por cada educadora, muitas famílias decidem que
em termos de custos a decisão mais lógica (e mais barata) a longo
termo é um dos pais abdicar do seu trabalho e ficar em casa para
cuidar das crianças.
De acordo com a OFSTED (Office for Standards in Education, Children’s
Services and Skills), um adulto não pode ter mais de 3 crianças de
2 anos ou menos ao seu cuidado; entre os 2 e os 3 anos deve existir
um adulto por cada quatro crianças; entre os 3 e os 7 anos o rácio
é de 1 adulto por cada oito crianças. O rácio aumenta cada vez que
hajam visitas de estudos ou saídas em grupo após uma avaliação
preliminar dos riscos associados com essas saídas.
Eu gosto destes rácios mais reduzidos: as minhas filhas têm mais tempo
de atenção, é mais fácil para as educadoras delas conhecerem-nas
melhor e com isso poderem identificar quase de imediato quando algo
não está bem ou quando elas não estão a adaptar-se a alguma
coisa. Por outro lado, os custos que eu estou a pagar actualmente não
seriam comportáveis se eu não recebesse tax credits (componente de
childcare) para me ajudar. Só este mês de Setembro paguei £1400 de
childminder e nursery. Considerando que as minhas miúdas não vão a
tempo inteiro (porque eu tenho a sorte de trabalhar a tempo parcial),
este valor é um balúrdio. A minha renda de £950 quase que parece
tostões ao lado das faturas mensais do meu childcare.
Depois de considerarmos os custos e prepararmos para abrir os cordões à
bolsa, a escolha do tipo de ‘childcare’ é outra parte importante
e morosa do processo. Nem todas as opções se adequam à realidade
de todas as famílias, e o que funciona para uns, não funciona
necessariamente para outros. Eu tenho a sorte de ambas as minhas
filhas se adaptarem bem onde quer que estejam. A mais velha já
começou a escola primária, por isso só preciso de alguém que a vá
levar e buscar à escola em certos dias da semana (contratámos uma
childminder). A mais nova anda agora no mesmo infantário (Nursery)
que a irmã andou. O facto de já ter alguma experiência com o
infantário dá-me alguma tranquilidade porque já conheço as
pessoas, o ambiente, as rotinas. A primeira vez que deixei a mais
velhinha num nursery ela tinha 18 meses e lembro-me que me custou
imenso (mas ela adaptou-se logo muito bem). Quando tive de lá deixar
a mais novinha o ano passado ela só tinha 7 mesinhos, e custou-me
também, mas não tanto como foi com a irmã dela.
Antes de escolhermos, é muito importante confiarmos nas pessoas que vão
tomar conta dos nossos filhos. Se a confiança não existe, é muito
mais difícil o processo de adaptação à nova realidade e como mãe
eu sei que não ia conseguir trabalhar descansada. No Reino Unido há
várias opções, eu uso um nursery e uma childminder, mas há
famílias que preferem empregar uma ‘Nanny’ por exemplo, que
cuida das crianças e ainda ajuda em casa com algum do trabalho
doméstico. Há famílias que preferem só pagar um clube de pequeno
almoço ou pós escolar para poderem ir trabalhar mais cedo ou saírem
do trabalho mais tarde. Nos clubes as crianças ficam em grandes
grupos, fazem actividades antes da escola, tomam pequeno almoço ou
um lanchinho, e há sempre alguém que as vai levar e buscar à
escola (se não for a escola a providenciar esses clubes dentro das
suas instalações).
Depois de muito puxar os cordões à bolsa, na grande maioria das vezes
sozinha e com algumas dificuldades, surgiu agora a oportunidade de
poder reduzir o valor do meu childcare graças aos meus vizinhos da
frente, que também têm uma menina de 2 anos. Um deles acabou agora
a licenciatura e vai ficar em casa com a filha para que o outro possa
acabar o curso. Depois de muito falarmos, decidimos que a partir do
mês que vem eles vão ficar com as minhas miúdas uns dias por
semana, para que eu possa ir trabalhar descansada, pagar menos e
dormir mais. As miúdas vão poder brincar todas juntas e eu vou
poder vir logo para casa directo do trabalho e sem precisar de dar
duas voltas para as ir buscar a sitios diferentes antes de voltar
para casa.
Em Portugal há muitas famílias que recorrem aos avós, tios para
olharem pela sua prole. Como a minha família está longe ou tem
responsabilidades profissionais a tempo inteiro, não posso recorrer
a essa grande ajuda, mas tenho a sorte de poder recorrer aos meus
vizinhos, que são pessoas excepcionais e com uma grande vocação e
paciência para cuidar de miúdos. Tenho esperança de que as coisas
corram bem, e as minhas miúdas vão poder ter mais de mim, e como
família nós as três vamos poder ter um bocadinho mais de qualidade
de vida. E isso, com a felicidade e o bem estar delas, é tudo o que
me importa nesta altura.
Neste país temos que ser criativos e é importante ajudarmo-nos uns aos
outros porque só assim se consegue sobreviver enquanto criamos os
nossos filhos. Como diz o provérbio, ‘It takes a whole village to
raise a child’ (é preciso uma aldeia inteira para educar uma
criança). Pelo menos até a mais nova fazer 3 anos e nós podermos
finalmente receber as horas grátis de nursery que o governo dá. Mas
isso fica para outro post.
por Leonor Silva de Matos
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