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20.9.16

entre o educar e o cuidar [ imperfeições alheias ]



No Reino Unido, o custo de deixar uma criança ao cuidado de profissionais ( berçários, infantários, amas, clubes pós escolares, ou babás), pode custar tanto ou mais que aquilo que os pais pagam de renda. Por exemplo, uma família com duas crianças de 2 anos e 5 anos, entregues aos cuidados de alguém a tempo inteiro (normalmente de segunda a sexta-feira) - isto enquanto os pais trabalham - pode pagar cerca £11,700 por ano só em mensalidades (Family and Childcare Trust Annual Report, 2014). Para pais solteiros, esta realidade leva a que muitos desistam de trabalhar a tempo inteiro para poderem suportar o encargo financeiro ligado ao que aqui se chama de ‘childcare’. 

Reino Unido é dos países da Europa onde mais se paga ‘childcare’, precedido apenas pela Suiça (Daynurseries.co.uk , 2014). Nos países nórdicos, onde se paga mais imposto, o childcare é virtualmente de graça ou tem um limite que normalmente não vai acima dos £300 por mês. Diante desta situação, que é em parte criada pelo reduzido rácio de crianças por cada educadora, muitas famílias decidem que em termos de custos a decisão mais lógica (e mais barata) a longo termo é um dos pais abdicar do seu trabalho e ficar em casa para cuidar das crianças. 

De acordo com a OFSTED (Office for Standards in Education, Children’s Services and Skills), um adulto não pode ter mais de 3 crianças de 2 anos ou menos ao seu cuidado; entre os 2 e os 3 anos deve existir um adulto por cada quatro crianças; entre os 3 e os 7 anos o rácio é de 1 adulto por cada oito crianças. O rácio aumenta cada vez que hajam visitas de estudos ou saídas em grupo após uma avaliação preliminar dos riscos associados com essas saídas.
Eu gosto destes rácios mais reduzidos: as minhas filhas têm mais tempo de atenção, é mais fácil para as educadoras delas conhecerem-nas melhor e com isso poderem identificar quase de imediato quando algo não está bem ou quando elas não estão a adaptar-se a alguma coisa. Por outro lado, os custos que eu estou a pagar actualmente não seriam comportáveis se eu não recebesse tax credits (componente de childcare) para me ajudar. Só este mês de Setembro paguei £1400 de childminder e nursery. Considerando que as minhas miúdas não vão a tempo inteiro (porque eu tenho a sorte de trabalhar a tempo parcial), este valor é um balúrdio. A minha renda de £950 quase que parece tostões ao lado das faturas mensais do meu childcare. 

Depois de considerarmos os custos e prepararmos para abrir os cordões à bolsa, a escolha do tipo de ‘childcare’ é outra parte importante e morosa do processo. Nem todas as opções se adequam à realidade de todas as famílias, e o que funciona para uns, não funciona necessariamente para outros. Eu tenho a sorte de ambas as minhas filhas se adaptarem bem onde quer que estejam. A mais velha já começou a escola primária, por isso só preciso de alguém que a vá levar e buscar à escola em certos dias da semana (contratámos uma childminder). A mais nova anda agora no mesmo infantário (Nursery) que a irmã andou. O facto de já ter alguma experiência com o infantário dá-me alguma tranquilidade porque já conheço as pessoas, o ambiente, as rotinas. A primeira vez que deixei a mais velhinha num nursery ela tinha 18 meses e lembro-me que me custou imenso (mas ela adaptou-se logo muito bem). Quando tive de lá deixar a mais novinha o ano passado ela só tinha 7 mesinhos, e custou-me também, mas não tanto como foi com a irmã dela. 

Antes de escolhermos, é muito importante confiarmos nas pessoas que vão tomar conta dos nossos filhos. Se a confiança não existe, é muito mais difícil o processo de adaptação à nova realidade e como mãe eu sei que não ia conseguir trabalhar descansada. No Reino Unido há várias opções, eu uso um nursery e uma childminder, mas há famílias que preferem empregar uma ‘Nanny’ por exemplo, que cuida das crianças e ainda ajuda em casa com algum do trabalho doméstico. Há famílias que preferem só pagar um clube de pequeno almoço ou pós escolar para poderem ir trabalhar mais cedo ou saírem do trabalho mais tarde. Nos clubes as crianças ficam em grandes grupos, fazem actividades antes da escola, tomam pequeno almoço ou um lanchinho, e há sempre alguém que as vai levar e buscar à escola (se não for a escola a providenciar esses clubes dentro das suas instalações).
Depois de muito puxar os cordões à bolsa, na grande maioria das vezes sozinha e com algumas dificuldades, surgiu agora a oportunidade de poder reduzir o valor do meu childcare graças aos meus vizinhos da frente, que também têm uma menina de 2 anos. Um deles acabou agora a licenciatura e vai ficar em casa com a filha para que o outro possa acabar o curso. Depois de muito falarmos, decidimos que a partir do mês que vem eles vão ficar com as minhas miúdas uns dias por semana, para que eu possa ir trabalhar descansada, pagar menos e dormir mais. As miúdas vão poder brincar todas juntas e eu vou poder vir logo para casa directo do trabalho e sem precisar de dar duas voltas para as ir buscar a sitios diferentes antes de voltar para casa. 

Em Portugal há muitas famílias que recorrem aos avós, tios para olharem pela sua prole. Como a minha família está longe ou tem responsabilidades profissionais a tempo inteiro, não posso recorrer a essa grande ajuda, mas tenho a sorte de poder recorrer aos meus vizinhos, que são pessoas excepcionais e com uma grande vocação e paciência para cuidar de miúdos. Tenho esperança de que as coisas corram bem, e as minhas miúdas vão poder ter mais de mim, e como família nós as três vamos poder ter um bocadinho mais de qualidade de vida. E isso, com a felicidade e o bem estar delas, é tudo o que me importa nesta altura. 

Neste país temos que ser criativos e é importante ajudarmo-nos uns aos outros porque só assim se consegue sobreviver enquanto criamos os nossos filhos. Como diz o provérbio, ‘It takes a whole village to raise a child’ (é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança). Pelo menos até a mais nova fazer 3 anos e nós podermos finalmente receber as horas grátis de nursery que o governo dá. Mas isso fica para outro post. 

por Leonor Silva de Matos

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