Não estou aqui para dar conselhos, quem sou eu... mas se a minha experiência servir de exemplo para melhorar a vida de alguém pois aqui fica um pensamento, o meu.
A mulher de hoje tem valores que há 40 ou 60 anos maioritáriamente não tinha . A mulher de hoje é activa, pensa e age por si, é independente, gosta de si própria, tem opinião, trabalha, luta, agrupa um sem número de tarefas, gostos e interesses. Quando somos mães, vimo-nos privadas de quase todas estas coisas que nos identificam. As prioridades mudam para O Bebé (sempre em primeiro lugar), tentar manter a casa num nível de arrumação e limpeza razoável, o marido satisfeito como antes, tentar não esquecer dos amigos porque eles não vão entender que tudo mudou na nossa vida e nem sempre apetece ligar pois não há assunto além das horas que não dormimos, as 30 fraldas que já mudámos, a cagada monumental que acabou na banheira... não, não sabemos que a Cleopatra já largou do César, nem que o novo filme do James Bond já estreou, nem que a Maria das Couves foi apanhada na cama com o Manel dos Grelos. O Mundo hibernou para nós, por isso não levem a mal que não dê para ir tomar café a meio da manhã porque é mesmo nessa altura que o bebé dorme e aproveitamos para tomar banho ou tomar o pequeno-almoço e pôr a pilha de roupa na máquina... se tivermos sorte ainda a conseguimos ligar antes de o ouvir berrar. A sociedade permanece tão exigente com a Mulher Mãe como sempre o é/foi com a Mulher ("apenas"). Não mostra qualquer sentimento de solidariedade por estarmos absolutamente dedicadas a criar o futuro da mesma (sociedade). Com sorte ainda conseguimos ouvir: "não o mandaste vir? agora aguenta!" como se ter decidido ter um filho na conjuntura do Mundo actual fosse a maior loucura das nossas vidas... mais do que um acto de coragem e desprendimento. Tudo bate de frente e tudo nos atingi mais do que supostamente devia graças às malditas hormonas que estão ao rubro.
Quando estavas grávida diziam-te que a tua vida iria mudar radicalmente. Mas nunca disseram que tu também mudarias. Porque quando estamos grávidas estamos motivadas e cheias de certezas que vamos dar conta do recado e com certeza há coisas piores e se as outras conseguem porque não o conseguirei eu? Depois a criança nasce e de repente sentimo-nos pequenas e vulneráveis demais. Acabam-se as certezas, as forças vão-se com as noites mal dormidas e tudo parece dramáticamente dificil e impossivel de superar.
A L. nasceu tinha saído de Londres há meia dúzia de meses. Não conhecia ninguém. Era eu e o D. num bairro ainda desconhecido mas felizmente pacato. O meu artesanato, uma ocupação exterior à maternidade, fez-me sentir mais EU, fez agarrar-me ao Mundo geral e manter a cabeça viva e os braços ocupados com mais do que apenas o bebé. Foi um detalhe importante que, à primeira vista, parece negativo porque tinha de dedicar horas ao meu trabalho e não ao recém-nascido. Mas foi, sem dúvida, um detalhe que fez com que a L. e a C. crescessem mais independentes e eu crescesse também, como mãe, mais controlada.
Houveram momentos que sentia que estava a ser uma mãe incompleta por não estar absolutamente entregue à maternidade mas os factos mostravam-me o contrário, apesar de tudo as minhas filhas eram/são felizes. Tentei dar-lhes atenção quando se dirigiam a mim mas deixei-as livres sempre que precisei de fazer algo. Falava com elas (ainda o faço com a Clara) enquanto trabalho mas nego-lhes muitas vezes o colo. Tento porém, e cada vez mais, guardar um pouco do final do dia só para elas, nessa altura não existe mais nada nem ninguém. Porque se o tempo que lhes oferecemos for de qualidade não é na quantidade que devemos colocar a bitola. Assim tenho superado, acho que de forma positivo, este desafio de ser mãe, mulher e tudo o resto que achamos que temos de ser. Muitas vezes com desesperos, muito cansaço, algumas angustias mas sem nunca perder a sanidade mental.
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